domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quem foi Flora Tristán?

Flora Tristán nasceu em Paris, em 1803, filha de um aristocrata peruano e de uma plebeia francesa que havia emigrado para a Espanha. Com as guerras napoleónicas e a morte do pai, em 1808, a família de Flora inicia uma etapa de pobreza, mitigada pela ilusão do futuro acesso à fortuna paterna, quando pudessem viajar para a América.

Em 1820, devido às dificuldades, Flora vai trabalhar como operária de uma oficina de litografia, cujo jovem proprietário - André Chazal - se apaixona por ela. Para fugir da miséria e submetida à pressão materna, Flora casa-se em 1821, gerando dois filhos e uma filha. Em 1826, Flora, que já não suportava aquela união sem amor e convencional, abandona o lar, dando origem a uma dura disputa legal e pessoal, que se prolongará por 12 anos. Chazal, que tenta matar Flora, é condenado a 20 anos de trabalhos forçados. Essa vivência será um estímulo para que desenvolva um pensamento e uma acção que serão referências importantes para o movimento feminista. Flora foi uma figura única, que denunciou com a mais sentida sensibilidade os sofrimentos da mulher do seu tempo, fazendo reivindicações que continuam actuais.

Em 1833-34, Flora viaja ao Peru para reaver a herança do seu pai, sendo recebida friamente pelos parentes, que lhe concedem somente uma modesta pensão anual. Retorna à Europa reafirmando as suas ideias de igualdade, que vem amadurecendo, desde 1825, com a leitura de autores como Saint-Simon, Aurora Dupin, Fourier, Considerant e Owen, além dos seus contactos directos com o movimento operário na França e na Inglaterra.


Publica o seu primeiro folheto em 1835, dedicado à situação das mulheres estrangeiras pobres na França; em 1837, sai o segundo, em prol do divórcio; em 1838, são publicados os dois volumes de seu diário de viagem à América, sob o título de Peregrinações de uma Pária. Esta obra dá a Flora grande renome nos meios literários parisienses, reafirmado meses depois com a novela Mephis ou O Proletariado, que a eleva à categoria de rival da célebre George Sand[1]. Ao mesmo tempo, Flora aprofunda o seu compromisso activo com as lutas sociais mais radicais de então. Primeiramente, pela emancipação da mulher e da classe operária, mas também contra a pena de morte, o obscurantismo religioso e a escravidão.


Os anos posteriores a 1840 são para Flora Tristán de grande trabalho e pensamento. É então que escreve A União Operária (1843) e A Emancipação da Mulher (inédito até 1846), obras que marcam a sua maturidade intelectual e política. Realiza por toda a França a tarefa de organizar essa União Operária, que recorria à experiência inglesa das Trade Unions.


Flora Tristán faleceu, em 1844, vítima de tifo, na cidade de Bordéus. Tinha apenas 41 anos. Esta Mulher, quase desconhecida em Portugal, foi avó de um dos mais importantes pintores do século XIX: Paul Gauguin. Em sua homenagem existe, actualmente, no Peru, um instituto de apoio à Mulher com o seu nome.

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[1] Pseudónimo de Amandine Aurore Lucile Dupin (1804-1876).


Equipa do Projecto EQUAL

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